Dra. Joana Coelho
Mestre em Medicina Legal e Ciências Forenses
A morte é definida como um processo contínuo que ocorre ao longo de um período de tempo, uma vez que nem todos os órgãos e tecidos se tornam inviáveis ao mesmo tempo. Após a morte de um indivíduo, diversos fenómenos começam a ocorrer no cadáver. Existem os fenómenos cadavéricos imediatos que derivam da cessação das funções vitais e que vão desde o arrefecimento, rigidez cadavérica, livores e desidratação. Após os fenómenos imediatos, têm início os fenómenos tardios ou destrutivos que incluem a autólise e a putrefação.
A autólise consiste num conjunto de fenómenos fermentativos que têm lugar no interior da célula por ação das próprias enzimas celulares. É um processo de demolição molecular dos elementos orgânicos existentes na célula pela intervenção dos fermentos ou enzimas moleculares. Ao fim de algum tempo de evolução as enzimas chegam a atuar sobre si próprias, destruindo-se, terminando este processo e sendo substituído pela putrefação.
A putrefação é consequência da atividade bacteriana e enzimática, sendo considerado um processo de fermentação pútrida. A atividade bacteriana é responsável pela produção de diversos gases (hidrogénio, amoníaco, metano, ácido sulfídrico, anidrido carbónico, nitrogénio), ácidos (fórmico, oleico, succínico, leucínico, acético, palmítico, butírico, láctico, oxálico, etc.), lactonas, sais de amónio, ácidos aminados (leucina, tirosina, glicocola), corpos aromáticos sem nitrogénio (ácido fenilacético, fenol, ácido fenilpropiónico, etc.) e ptomaínas que levam ao aumento do volume corporal.
Um dos primeiros sinais da putrefação é a coloração esverdeada, chamada mancha verde, na região da fossa ilíaca direita. Esta mancha é produzida pela ação do ácido sulfídrico sobre a hemoglobina sanguínea na presença do oxigénio do ar, levando à formação de sulfohemoglobina. Esta mancha inicialmente ocupa uma área muito reduzida, mas que acaba por se estender a todo o abdómen e tórax. Este primeiro período é conhecido como período colorativo ou cromático e surge habitualmente entre 24h a 48h após a morte podendo estender-se entre os 3 e os 15 dias, dependendo das condições climáticas.
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