Reinventando a Morte.

Por Dra. Gisela Adissi
Consultora em inovação para death care, Presidente do Sincep (Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil) de 2018 a 2022, e co-fundadora do projeto “Vamos Falar Sobre o Luto?”

“Sonho com o dia em que frases como “ah, este foi o melhor funeral da minha vida” serão corriqueiras. A palavra funeral não soará estranha e antiquada como hoje (no dia em que meu sonho for realidade, talvez ela até tenha encontrado sinónimos mais simpáticos). Na verdade pouco importa que nome as cerimônias de despedida tenham. O mais importante é que elas sejam carregadas de significado e sirvam de ponto de partida para lutos mais saudáveis. Fui proprietária de um cemitério e sei, por conta de meus anos de experiência com as famílias que passaram por uma perda, o quanto um velório e um funeral bem realizados ajudam a encaminhar a experiência do luto numa direção positivamente transformadora.

As pessoas detestam funerais. Faz sentido que seja assim num tempo em que a morte e a tristeza perderam o direito de existir. Em nossa época, o luto é um constrangimento tanto para quem o vive quanto para quem convive com o enlutado. Hoje, a menor tristeza é convocada a sair de cena com a ajuda de remédios e terapias. “Velhice” virou palavrão (‘melhor idade”, maturidade…). Seguimos em busca de outros termos para designar essa fase. Com o aumento constante da expectativa de vida, a morte parece cada vez mais distante. Todas as conquistas que a tecnologia nos trouxe foram, aos poucos, criando em nós a impressão de que um dia os magos da medicina, ou aqueles do Vale do Silício, conseguirão de vez proteger- -nos do fim. Uma das empresas mais poderosas do mundo – a Google! – realiza desde 2013 estudos na área de saúde para a instalação de micro-robôs no nosso organismo que eventualmente nos ajudarão a detectar problemas muito antes deles se tornarem graves. Esses pequenos robôs nos levariam a estabelecer com a medicina uma relação que teria mais a ver com aperfeiçoar o corpo do que com “consertá-lo” (já não seria preciso consertá-lo, aliás, pois os tais mini-agentes de saúde não permitiriam que nada se estragasse). Essa é apenas uma das áreas de pesquisa da Calico, a empresa da Google dedicada a tornar-nos super-humanos. E a Calico não está sozinha nessa empreitada – inúmeras outras companhias do Vale do Silício estão na corrida pela vida eterna. Se pararmos para pensar que a morte é a negação da teoria de Darwin – segundo a qual cada espécie vai se aperfeiçoando sempre – parece lógico que um dia chegaremos à superação dela. Mas ainda não chegámos lá e eu, pessoalmente, nem acho que a eternidade seja uma boa ideia (isso, no entanto, é assunto para outro artigo. O objetivo deste texto aqui é deitar luz sobre as emoções que hoje estão em jogo quando o assunto é morte e mostrar a importância das despedidas bem realizadas.)”

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